Nasceu
no interior de uma cidadezinha espiritossantense. Filha de agricultores e neta de donos de
comércio. Por volta de 1940, por falta
de professoras e, a pedido da comunidade, assumiu a sala de aula. Ainda menina.
Conhecedora dos conteúdos a serem aplicados, aluna dedicada que sempre foi e,
impossibilitada, de ir para a cidade para dar continuidade aos estudos, resolveu atender as necessidades dos pequenos. Sem
nenhum impedimento e repleta de sonhos, compartilhou com meninos e
meninas os conhecimentos adquiridos ao longo dos anos, junto aos professores
que por ali passaram. MULTIPLICADORA.
Juntou todos os cadernos, revisou matérias estudadas, por conhecer as realidades
da comunidade, das crianças do interior, inovou na aplicação de conteúdos que
atendessem as necessidades dos alunos.
METOTOLOGIAS.Embora sem receber formação específica, inovava. Se aula era
de matemática, usava sementes de milho, caroços de feijão; de ciências, nada
melhor que aves e passarinhos, cobras e lagartos; se português, ora de escrever
um bilhete para o padrinho ou primos,
que se mudaram para a cidade. Tinha até atualidades, quando todos viram no céu,
cruzar um Zepellim. Com a experiência
dos mais velhos, ao ver as formigas trilhando seus caminhos o profetizar: -Um
dia, haverá tanta gente na cidade, que será preciso fazer pontilhões, assim
como as formigas, para se chegar onde se quer. Quando a fiscalização passava,
eram só elogios. IDEAL. A turma
composta por meninos e meninos de diferentes idades e estágios. Dividida por
atividades. Enquanto ensinava a uns, os outros faziam tarefas; enquanto
corrigia tarefas, outros copiavam do caderno de estudo. Na hora do recreio, oportunidade
de brincar com os amigos e, também, alunos, de amarelinha, molhar os pés no riacho, marcar
uma pescaria, depois da missa no arraial, um arrastapé na casa dos primos ou
vizinhos ao anoitecer, mesmo que se tivesse que caminhar cerca de uns 6/10
kilômetros a pé, até chegar a um vilarejo vizinho. Blim!Blim!Blim!! Meninos!!! SONHADORA. O sinal era um sino que
ficava na entrada so sítio, na porteira. O material educativo usado era adquirido pelos donos das
vendinhas, ou trazidos pelos mascates. Nem sempre se tinha papel para fazer um
cartaz, cola para afixar as poucas palavras escritas. A maioria das notícias
eram advindas das visitas à cidade,
ouvidas pelo rádio. Mesmo assim, trabalho em grupo: antecipadamente,
pedia pedaços de papel de se enrolar os pães e outros alimentos, unia as
partes, até ficar no tamanho desejado. A cola, era feita de cola de arroz, ou
massa feita com trigo. Os enfeites, as margens, -Ah!!, totalmente naturais: flores do
campo,sementes, terra. CRIATIVIDADE.
De vez em quando, a visita dos que alçaram voo: as notícias do mundo além da
porteira. A aula parava. O compartilhar as novas experiências. As novidades do
aprendizado, além do horizonte. Certo dia, o avô resolveu passar a venda. Para não ficarem sozinhos no cultivo da
terra, esta já cansada do plantio; embora o gado garantisse os lucros, vieram
todos para cidade. RECESSO. - O que
será dos meninos e meninas que ainda não concluíram a última série?! O
ultrapassar a porteira. O balanço da carroça, a trouxa de roupas pessoais e da
casa, os cadernos deixados sobre o colchão de capim. As lágrimas haviam ficado
no travesseiro de paina. Era preciso ser forte, afinal, o pai não gosta de
lágrimas, a mãe tem sonhos, a irmã ainda menina. -Condições melhores para todos
nós, diz a mãe! ÊXODO. Ao primeiro
nascer do sol, o pulsar do ritmo da
cidade: sinos das capelas, apito do trem, algumas poucas buzinas e as vozes das
moças e rapazes uniformizados para as escolas. – Pai, mãe, quando farei minha
matrícula, não vejo a hora de ter meu diploma! Pai, mãe, quando farão a
matrícula? Pai, mãe....PRECISA-SE DE
COSTUREIRA. tecotecotecoteco....
agulha na linha, linha na agulha da máquina... barulho de tesoura sobre a mesa.
O sair às 6h, com os passarinhos e voltar às 18h com as primeiras estrelas. O
deitar a cabeça no travesseiro e sonhar: um dia, me formo em professora e volto
para o meu lugar... REMINISCÊNCIAS. tic-tac!tic-tac!
Certo dia, na igreja: Professora!! Professora! Era uma das alunas do interior.
Abraços. Estive no vilarejo, dias
destes, falaram que vocês vieram para cidade. Que saudades! Nunca esquecerei as
aulas de Português, Matemática, Ciências.... Foram delas que me vieram os
conhecimentos, inspiração para tornar-me uma professora, inclusive, escrever esta cartinha, agradecendo-lhe:
Obrigada, professora “ Minga” , pelos ensinamentos
que levarei por toda a vida.”!
“Minga” – termo carinho, dado
por familiares e alunos, à Inaldina Vieira, hoje com 87 anos, moradora
em Piúma, Litoral do Es.
Verônica Eugenio
Ola Senhora Verônica
ResponderExcluirQue fascinante experiência
Muito obrigado por brindar-nos!
http://devagarsevaimaislonge.blogspot.com.br/2015/04/que-saudades-da-professorinha-que-me.html
Wilson
vidaecrescimento@gmail.com